quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Para entender a política,conheça a família Roriz

Quando corria no ano passado na câmara Legislativa do Distrito Federal o processo de cassação da ex-deputada distrital Eurides Brito, a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) foi impiedosa. Não apenas declarou que Eurides devia ser cassada,como criticou duramente o fato de ela ter recebido propina do ex-operador e delator de mensalão de Brasilia,Durval Barbosa.
Criticou,inclusive,de maneira ofensiva.
Como se sabe hoje, a indignação de Jaqueline era dissimulada.Ela também recebera a propina de Durval Barbosa. A única diferença era que, aquela altura,não se conhecia o vídeo em que ela fora flagrada recebendo a bolada de dinheiro.O de Eurides era conhecido,azar o dela. "Perdeu,Eurides",como diria um assaltante na esquina.
Quando a operação Caixa de Pandora escancarou o escandaloso esquema do mensalão de Brasilia,o pai de Jaqueline,Joaquim Roriz, protagonizou um programa político de seu partido,o PSC,em cadeia nacional.
No programa, ele dizia que estava morrendo de "vergonha"de ver o que o ex-governador J. Roberto Arruda tinha feito com Brasília,morrendo de "vergonha"de saber da existência do mensalão.Nova dissimulação,muito provavelmente.
É  muito difícil acreditar que ele não soubesse que sua filha também tinha recebido dinheiro do esquema,só não tinha ainda sido flagrada.
Barrado pela Lei da Ficha Limpa,Roriz renunciou à sua candidatura ao governo do Distrito Federal e colocou em seu lugar na disputa sua mulher,Weslian Roriz. Neófita na política,despreparada,weslin cometeu um ato falho num debate na TV Globo e prometeu que,se fosse eleita,iria "defender toda aquela corrupção".
Imagino que a primeira reação diante do relato acima seja perguntar."Que família é essa"?Bem a julgar pelo resultado da votação que dia 30 absolveu Jaqueline Roriz,essa família é o retrato pronto e acabado da elite política brasileira.Foram 265 os deputados que julgaram que Jaqueline Roriz não atentou contra o decoro parlamentar. mais 35,seriam 300.É incrível como permanece sempre atual o cálculo de Lula sobre os "300 picaretas".
Decoro parlamentar é um conjunto de atitudes que só pode ser definido no campo da ética.Não é algo que pertença ao campo do Direito,onde cabem discussões sobre prazos,prescrição,temporalidade,etc.O que define o decoro é saber se o comportamento de determinada pessoa coaduna-se com a dignidade que se deve esperar de um parlamentar. Como esses deputados podem achar que o comportamento de Jaqueline Roriz a torna digna de ser deputada?
"Ah, foi antes dela ser deputada",argumentaram seus defensores. Jaqueline chegou a dizer, em seu discurso que na época, ela não estava submetida ao decoro parlamentar. Como não? receber propina é uma atitude condenável só para quem tem mandato eletivo? Está liberada para os cidadãos comuns?
E ficar fingindo que não tem nada a ver com isso, ajudando a empurrar a colega Eurides Brito para a fogueira? É atitude que se preserva dentro do decoro parlamentar? Esse tipo de dissimulação é o que o eleitor espera dos seus representantes?
O que se viu na Câmara foi mais uma demonstração de como é diferente a ética da elite política brasileira. Desde a formação do brasil, quando a colônia portuguesa foi loteada em capitanias hereditárias e cada pedaço foi dado a um integrante da elite política da época para que o explorasse o máximo que pudesse, ficou estabelecido que o mandatário no Brasil podia se valer da coisa pública como se fosse dele. O país não está mais loteado, mas é essa a lógica que persiste: os mandatários continuam agindo como assim fosse.
É uma falácia o lugar comum usado por muitos políticos de que o congresso é a representação do povo brasileiro. Em primeiro lugar, ela desconhece as distorções que há no sistema representativo do país. Mas, especialmente, ignora o principal: trata-se de um sistema político caro e excludente, que impede e desestimula as pessoas comuns de ingressarem na política.
Ou seja: a política brasileira é uma atividade exercida, em sua maioria, por uns poucos, uma elite. E, não: essa elite,que na terça-feira (30 de agosto)absolveu Jaqueline Roriz, não pensa como a maioria da sociedade brasileira. É hora de encontrarmos um meio de mudar esta situação.


Texto Rudolfo Lago
Jornalista radicado no Distrito Federal.





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