No longo depoimento prestado na madrugada de sua prisão, na sede da Polícia Federal do Rio, que na sexta-feira foi tratado pelos policiais federais como informal, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Favela da Rocinha, revelou que negociava há cerca de dois meses sua rendição com o coordenador do AfroReggae José Júnior. O traficante, segundo os policiais federais, não citou qualquer policial civil na negociação. Segundo os agentes, o bandido, bastante tenso, chegou a chorar ao afirmar que,depois da prisão, vai abandonar o tráfico.
- Não vou mais traficar. Não quero mais saber dessa vida - afirmou o bandido.
Nem também revelou como entrou no crime. Segundo o traficante contou no depoimento aos federais, isso aconteceu há 12 anos, quando sua filha nasceu com uma doença grave, degenerativa. O bandido, nessa época, era um vendedor de revista e, sem dinheiro para custear o tratamento, pediu demissão do emprego.
- Não é verdade que entrei no tráfico depois de receber R$ 400 mil do antigo chefe do trafico na Rocinha. Entrei por opção própria, para custear o tratamento médico da minha filha, na época muito caro - afirmou o bandido.
Como O Globo revelou na sexta-feira, o traficante afirmou que metade de tudo que faturava com a venda de drogas era entregue a policiais civis e militares da banda podre. A propina gorda seria entregue a numerosos agentes públicos. O traficante deu detalhes, inclusive datas, de casos de extorsão. Ainda no depoimento, o criminoso afirmou que recebia, no máximo, R$ 1 milhão por mês brutos. Algumas estimativas chegavam a R$ 100 milhões por ano.
Metade do dinheiro que eu ganhava era para o "arrego" (gíria para propina)
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse em entrevista ao "RJ-TV", da TV Globo, que gostaria muito que Nem falasse mesmo o que sabe, por conhecer "a arquitetura do tráfico de drogas e como são os meandros da corrupção".
- Ele tem uma prestação de contas muito séria e importante a fazer à sociedade fluminense. Ele tem que prestar contas sobre a corrupção de agentes públicos. Eu acho que isso faria com que fosse dado um passo importante no combate à criminalidade - disse Beltrame, por telefone, de Berlim, onde está apresentando os projetos na área de segurança para a Copa e as Olimpíadas.
O bandido contou no depoimento que uma parte do seu lucro com a venda de drogas era gasta em assistencialismo na Rocinha, com pagamento de enterros, fornecimento de cestas básicas, compra de remédios e realização de obras.
- Quando me pediam, eu comprava tijolos e financiava a construção de casas na comunidade - disse.
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